EntrevistaA vida fácil que não é tão fácil assim
“Como não tenho nada para fazer, ganho a vida me prostituindo”
Por: Marcos Moreira Esses dias cheguei tarde em casa. Meu Deus tava muito tarde para quem é acostumado a voltar no máximo à meia noite. Bom eu cheguei por volta das duas da manhã, estava em uma festa que havia acontecido na casa de uma ex-colega da faculdade. Fui embora da festa com dois colegas, sendo que um deles me pediu carona até o centro da cidade, eu sempre gentil, disse que não teria problema algum pois o local que questão era meu caminho de ir embora.
Pois bem deixando meu colega em sua casa reparei que em algumas ruas próximas haviam aglomerações de rapazes, perambulando de um lado para o outro. Neste momento meu celular tocou (um caso antigo), comecei a conversar no celular e fiquei ao longe estacionado reparando os jovens. Como a conversa demorou “horrores” deu para perceber que além desses rapazes ficarem amontoados alguns davam voltas nos quarteirões, e ao longe dava para ver alguns carros parando e eles (os garotos) iam de encontro até estes, alguns rapazes entravam, outros apenas conversavam ou davam sinal de até logo.
Bom neste momento eu já não tinha dúvida alguma do que se tratava né? Afinal eu não sou tão burro assim. O problema é que nunca vi tantos
garotos de programas num só local, teria talvez um nome propício para o coletivo deles? Matilha? Ou bando ? sei lá no ensino fundamental só aprendi os mais comuns, e tinha certeza que os mencionados a cima não seriam, mas não vem ao caso.
Aproximei-me, desci do carro, isso deveria ser uma hora da manhã por aí, e um jovem me perguntou se eu desejaria algo, indaguei o que ele estava fazendo ali naquele horário, ele imediatamente me respondeu que “ganhando a vida”. Eu na tentativa de entrar no universo dele puxei assunto. Perguntei se morava ali perto ele disse que não, e que havia chegado na cidade há cerca de três meses, vindo de outro estado.
Bate papo
O rapaz com o nome Flávio (fictício, ou profissional talvez) me relatou que começou a fazer programas ainda na juventude, na época com a idade de 16 anos já dormia com alguém para receber alguns trocados, hoje já com 25 anos contou que não pretende sair dessa vida.
Porque?
Porque segundo ele não encontra nenhum emprego na cidade. Para ele o fator preponderante de ter entrado no universo da prostituição nem foi tanto a falta de emprego, mas sim a falta de dinheiro para consumir drogas.
Vindo de uma família de cinco irmãos, Flávio o mais jovem se viu “obrigado” a entrar neste mundo aos 15 anos para sustentar o vicio. “
Antes do mundo do sexo, veio o das drogas, neste período perdi minha família, me vi diante da escolha entre as drogas e a minha casa. Então optei pelo pior”.
Há esta altura eu e o garoto de programa já tínhamos caminhado um bocado e nos sentamos um banco para ele prosseguir com seus relatos.
A situação de Flávio se agravou depois que viciado quimicamente e sem dinheiro para sustentar o vicio se viu obrigado a manter relações sexuais por grana, relações que fazia com homens ou com mulheres o que importava era o cachê no final do ato. “
Nunca importei se fazia sexo com homens ou mulheres, eu estava afim mesmo era do dinheiro pra comprar droga, não podia ficar sem”. Assegura. O caso dele me chamou atenção perguntei de onde ele era, já que tinha três meses que estava aqui na cidade.
Ele morava em Santarém no estado do Pará, lugar onde tinha nascido e sido criado até os 24 anos de idade, ele me falou que sente falta dos pais, principalmente da mãe que é lavadeira de roupas e dos irmãos que segundo ele todos são “direitos”. Ao procurar sobre o valor que ele cobrava de seus clientes, ele sorriu e perguntou se havia algum interesse de minha parte, eu logo disse que seria apenas para dados jornalísticos pois não tinha o menor interesse. Ele me contou que dependia muito.
Dependia de que? Ele falou que dependia se era com mulher ou com homem, e se demoraria, pois o valor cobrado era para ser algo rápido custando cerca de 50 reais o básico, segundo ele.
Perguntei:
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Flávio você saiu do Pará, só para se prostituir aqui, Ou veio para outra ocupação?“
Não. Vim para conseguir um trabalho melhor, mas Tenho apenas o ensino fundamental, não terminei nem a oitava serie. Não tenho experiência em nada só em sexo. E como não tenho nada para fazer, ganho a vida me prostituindo”.
Notei que Flávio é uma pessoa jovem, que apensar do pouco estudo é bem inteligente, pele morena clara estatura mediana e semblante de sarcasmo, porém o que mais me chamou a atenção foi um colar com duas medalhas da santa Nossa Senhora Aparecida.
Perguntei:
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Você carrega consigo a imagem de uma santa? Praticante de alguma religião?
Ele me respondeu:
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Já fui evangélico, minha família toda é evangélica, eu sigo os costumes dos meus avós, sou católico, mas dificilmente vou na missa” sem terminar direito de responder lhe fiz outra pergunta:
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E você acredita em Deus, ou/e nesta santa? Ele foi direto. “
Sim por isso que não largo ela, acho que um dia vou sair disso, e vou agradecer a eles”.Naquele momento, não se ouviu mais nada, pairou sobre nós um silêncio que ficou por um instante, apenas observei que seus olhos estavam vermelhos, talvez pelo sono, mas acho mesmo que era vontade de chorar. Eu não precisei conter as lagrimas porque não me emociono facilmente, não que eu seja tão frio, apenas não demonstro sensibilidade perto das pessoas, ainda mais de um entrevistado (rs). Ele não sabia que era uma entrevista eu tentei ser o mais natural possível e mesmo depois que contei que não tinha interesse algum no “trabalho” dele, ele agiu naturalmente me contanto um pouco de sua história. Aqui nestas linhas eu exponho apenas parte do que ouvi naquela madrugada, por que para narrar tudo, talvez escreveria um livro. Mas se bem que Eu deveria né? Afinal a Bruna Surfistinha nasceu assim (rsrs).
Uma prostituta como todas as outras, a única diferença é que ficou rica, e as outras? bom as outras continuam“ganhando a vida” por aí.
Obs:
hoje ele diz que, “só” se prostitui, e não está mais no mundo das drogas. Se bem que este mundo também pode ser considerado uma DROGA né?