Reportagem
HOMOSSEXUAIS X ADOÇÃO
PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO DEMORA E MEDO. ESSES SÃO ALGUNS DOS CAMINHOS QUE PODEM PASSAR OS HOMOSSEXUAIS QUE PRETENDEM TENTAR A ADOÇÃO. EM GOIÂNIA, O CASAL DE PROFESSORES RAFAEL E CRISTIANO CONSEGUIRAM HÁ UM ANO, A PRÉ ADOÇAO DO PEQUENO APARECIDO, DE SEIS ANOS. SEGUNDO O IBGE CERCA DE 200 MIL CRIANÇAS ESTÃO SEM FAMÍLIAS, NA LISTA PARA SEREM ADOTADAS.
Por: Marcos Moreira
Se para muitos ser diferente é ser normal, para outros não é bem assim, as diferenças podem ser algo tão simples porém muito complicado, quem nos mostra isso é o conceito que as pessoas têm de indivíduos que não correspondem aos respectivos padrões pré estabelecidos pela sociedade. O preconceito.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, (ECA) não faz qualquer referência contrária a adoção por casal homossexual, e estabelece que o mais importante seja o bem estar da criança. Ele define que a criança deve ser protegida com direito a educação, vida social e afeto. Para muitos o fato de uma criança ser adotada por homossexuais é um ato de desrespeito a criança, por que a mesma não poderia ser criada por duas figuras iguais.
Para o psicólogo Marcellos Couto de Mello, a imagem de pai e mãe são muito importantes para o crescimento saudável de uma pessoa, porém ele não descarta a possibilidade de que casais do mesmo sexo podem criar tão bem seu filhos, mesmo que adotados.
Segundo Couto que também é homossexual o modelo familiar mudou muito de alguns anos para a atual realidade. “
Hoje família não é aquilo de pai, mãe, e filhos, atualmente o que se observa são pai e filhos, mãe e filhos, dois pais ou duas mães” avalia ele que também pretende adotar uma criança futuramente.
As dificuldades que Marcellos vai encontrar pela frente já são reconhecidas por ele, e diz que pelo motivo de sua sexualidade não poderia ter um filho biológico porque a criança acabaria ficando com a mãe. Acompanhar o crescimento, ajudar crianças que não possuem famílias, são alguns dos motivos que levaram o psicólogo a possível adoção. Para ele o fato de adotar não influenciaria a criança a rejeitá-lo no futuro, por que a mesma teria todo acompanhamento psicológico para que entendesse a situação. “
Possibilidade de gerar traumas aconteceria também em crianças criadas por casais heterossexuais” diz o profissional.
Fatores culturais, sociais e religiosos são ainda paradigmas regidos pela sociedade. Para o Padre Nelson costa, da Catedral de Goiânia o ato de homossexualismo já se trata de uma prática errada, e afirma que a adoção seria algo mais pecaminoso ainda. “
Prefiro não comentar, mas eu não concordo, de jeito nenhum” ressalta o religioso.
A jornalista Neila Santos pontua, que o mais importante não seria avaliar a questão se uma criança ser ou não criada por dois pais ou duas mães, e sim o fato de que elas precisam de uma família. “
Com o número alarmante de crianças sem famílias, o melhor seria se essas fossem bem criadas e recebessem de seus pais, ou mães carinho e afeto” analisa Neila. Dados do IBGE mostram que cerca de 200 mil crianças e adolescentes não têm família, e estão na lista para adoção.
Para a assistente social do DEFAI (Departamento de fiscalização aos abrigos) Sandra Sousa, a adoção homossexual ainda é algo que não acontece, segundo ela o que ocorre nos abrigos são apadrinhamentos que possuem três tipos.
O primeiro é o apadrinhamento Afetivo, que acontece com o acompanhamento dos padrinhos nos finais de semana pela criança, O segundo trata-se de um apadrinhamento Prestador de Serviços que além de fazer visitas faz serviços voluntários nos abrigos. O ultimo é aquele que custeia os gastos das crianças, ajudando-os em alimentação, roupas e outros, este caracterizado como o Provedor.
A advogada Maria Helena que atua na AGLT (associação de gays lésbicas e transgêneros) Prestando apoio a toda classe homossexual, em questões médicas, psicológicas e jurídicas, acentua que não existe adoção em Goiânia, o que existe é a guarda de responsabilidade da criança, e já a adoção deveria constar no registro dela os respectivos nomes dos pais, sem proferir quem é pai e mãe.
Para ela além do preconceito da justiça e da própria sociedade outro fator que impede é a homofobia, porque se o casal provar que vive uma união estável, idônea, e tem capacidades para manter a criança eles poderiam adotar normalmente.
“Para lei não existe diferença, na adoção, não pesa a questão da opção sexual, entretanto a realidade não é bem assim e a diferença é nítida”.
Um dos pontos que mais se questiona é sobre a influência que pais ou mães homossexuais podem dar a seu filhos, de acordo com o psicólogo Marcellos Couto, isso não é motivo para rejeição a adoção, pois casais heteros tem filhos homos, e não se trata de ter uma figura para determinar a opção sexual, pois ela acontece aos poucos variando do tempo e da pessoa.
Segundo ele os sofrimentos são inevitáveis e as crianças vão passar por isso, até mesmo porque a discriminação acontece não só com crianças que venham ter famílias homossexuais, mas também com crianças negras, deficientes, obesas e etc. contudo diz que se bem trabalhado, dialogado, acompanhando a criança, suprindo a carência com afeto e apoio psicológico, vai amenizar o sofrimento dela.
“É preferível que uma criança venha ser discriminada por ter um pai ou uma mãe homossexual do que passar a vida toda em um orfanato,” Marcellos Couto.
Adoção pré concedida em GoiâniaO casal de professores, Cristiano Françoso e Rafael Andrade, tiveram parte da adoção conseguida na justiça. Rafael conheceu Cristiano no Brasil e ambos foram para Chicago EUA cidade de origem de Cristiano, onde se mantiveram por algum tempo, retornando ao Brasil encontraram o menor A.C.P, hospedado na casa dos familiares de Rafael. O menor veio de uma família humildade de sete irmãos, morava com a família até então em condições precárias, sua mãe com problemas mentais e seu pai com a idade já avançada não garantiam seu futuro. Movido pela compaixão e pelo pedido do pai do garoto, o casal resolveu pegar a criança para criar, mas Rafael deixou claro que deveria ser de papel passado para não surgirem problemas, foram ao conselho tutelar onde o pai do menino passou a guarda de responsabilidade para Rafael.
Segundo o casal o que moveram eles a responsabilidade de criá-lo foi o ato de ajudar ao próximo, pois até então não havia despertado o desejo em ambos de serem pais. Para eles o preconceito não é barreira que não possa ser quebrada, e o remédio para tal ato de desrespeito é simples
“Amor, o amor transpõe qualquer discriminação ou preconceito” Rafael Andrade
A fase de adoção não é simples por isso o casal está registrando o menor apenas no nome de um, e também pelo fato de que o outro não é brasileiro o que seria mais complicado. De acordo com o casal há um atraso na cultura Brasileira e se fosse em Chicago EUA, os casos não seriam tão difíceis. “
Não tem lugar mais burocrático do que no Brasil”. Cristiano.
Rafael concluiu o segundo ano do ensino médio e fez um curso de inglês fora, hoje dá aulas particulares, Cristiano é professor de inglês formado em música, com mestrado em teologia, para os dois a questão do preconceito será bem enfrentada pelo garoto se for bem direcionado por eles “
A gente quer que ele tenha uma personalidade forte, e tente se defender. Mostramos para ele que o mais importante é o amor acima de tudo e que não importa o sexo da pessoa” Rafael.
Eles não escondem do menino o fato da sexualidade até porque a criança presencia cenas e manifestações de carinhos dos dois, e afirmam que não se sentiriam culpados se ele viesse a ser homossexual, para eles a questão da sexualidade é algo intrínseco da natureza de cada individuo e não uma influência.
Os professores mostram que vivem uma vida normal, sem preconceito ou discriminação
“As pessoas não percebem que somos uma família” Rafael
. E revelam que no Brasil a mídia tem uma visão supérflua dos gays, e quando esta não faz piadas debocham da classe homossexual. Eles dizem que o motivo de não ter tanta adoção homossexual no Brasil não é devido apenas do preconceito mas também dos próprios homossexuais. “
Os gays do Brasil não são ativistas, eles moram com os pais até os cinqüenta anos. Nunca irá acabar o preconceito se não irmos à luta”. Fala o professor Rafael.
A família pretende ir embora do país, mas só se puderem levar o pequeno junto, eles afirmam que não ficariam sem ele, e que mesmo se a justiça negar o processo eles vão criar a criança normalmente, o carinho e o afeto adquirido pelo garoto aos pais é recebido com a mesma intensidade por ambos, e que a falta da mãe não é motivo para não criarem bem o menino.
M.M